sábado, 27 de fevereiro de 2010

Esclarecimento

Hoje decidi esclarecer alguns leitores deste espaço da minha posição,escolha, de pesca sem morte.

Sei que esta modalidade é muito difícil de compreender,e todo o pescador gosta de levar para sua casa um bom troféu,só que pode optar também de  o devolver à água e levar para casa uma boa fotografia, incluindo pescador e peixe, e essa durará de certeza vários anos ,e o peixe pode sempre ser pescado outra vez,dando prazer a outros pescadores.

Bem sei que se põem sempre a questão- "e se a Truta fica ferida de tal maneira que não tem condições de sobrevivência?"
Neste caso, eu se tiver medida legal, guardo e trago para casa,e tento confecciona-la de seguida, se não tiver devolvo ao seu habitat, mesmo sabendo  que não tem condições de sobrevivência, pode sempre servir de alimento a outras espécies.

Comenta-se que se está a criar uma elite fundamentalista  de pesca à mosca sem morte,onde se apregoa que  todas as outras artes ancestrais, como a minhoca,lesma,grilo,e de mais iscos vivos devem ser proibidas e só obter licenças quem estiver associado a esses grupos e cumprir com as regras impostas por eles,que todos os rios devem ser concessionados,-e o resto das modalidades????- não tem o mesmo direito???
Eu demarco-me dessas pessoas,não estou ligado a nenhuma associação,grupo ou  clube de pesca,por isso tenho uma opinião livre.
Tenho muito apreço  e admiração pela Associação Portuguesa de Pesca à Pluma e sei que são defensores e acérrimos  de valores - regras, e lutam para que as gerações vindouras possam usufruir de momentos de puro prazer ,que é a pesca à mosca,tentando passar a mensagem de um desporto acima de tudo,e não um produto culinário.Apoio e sobrescrevo todos os ideais da APPP e todas associações de pesca sem morte,o que eu não apoio são fundamentalismos hipócritas,que normalmente se escondem por de traz de uma identidade,para fazer valer os seus valores e ideais,um verdadeiro amante das trutas não faz isso.

Decidi pescar sem morte  à relativamente pouco tempo, 2 anos,e tomei essa decisão porque cheguei à conclusão que os exemplares que trazia para casa eram quase sempre para deitar fora,ou porque quando chegavam, depois de um dia de calor, já não tinham condições para serem consumidos ou ficavam esquecidos no frigorífico acabando por se deteriorar.

Sempre pesquei sozinho(bem sei que é perigoso e já senti isso na pele por várias vezes)por opção,porque a pesca liberta-me a alma e da-me momentos de reflexão extraordinários,funcionando em mim como uma verdadeira terapia para a minha sanidade mental,uma manha ou tarde de pesca ,vale mais que 8 dias de ferias,chego a maior parte das vezes a percorrer mais 300 quilómetros só para visitar alguns troços.
 
Ironia,sou cozinheiro,nunca almoço ou janto em casa, bem como a minha esposa,também ela   chef  de cozinha.Reconheço algum valor gastronómico nas trutas,nomeadamente em escabeche,mas como profissional ,aconselho a quem pesca com morte a estripar imediatamente o peixe e tentar não o manter em contacto com os restantes nas cestas,separando-os com ervas frescas, se possível loureiro, pois as trutas são um dos peixes mais sensíveis que conheço.

Para quem pesca sem morte, a captura de em exemplar dá  duplo prazer,por um lado a de conseguir dominar e ter nas mãos a  Truta,e por outro, de seguida, o  de a devolver ao seu habitat, experimentem uma vez só, e sintam o prazer que isso dá.

Com isto espero ter esclarecido alguns leitores deste modesto blogue.
Muito obrigado a todos que me mandaram emails,uns concordando com a minha escolha,outros discordando,coisa que não sou é fundamentalista,pois a vida está cheia de me dar lições de humildade.
Abraço,
João Dias